Ainda não sou adepta a prescrição de jejum intermitente, aos meus pacientes, por ter observado ao longo destes anos de experiência em nutrição clínica de que quando submeti vários deles a tal processo( conseguiam até manter focado no propósito de emagrecer adotando este método) mas após alguns meses acabavam desistindo e recuperando o peso perdido novamente.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo e publicado na revista Endocrinology, demonstrou que o jejum intermitente foi capaz de prevenir o ganho de peso mas pode causar alterações metabólicas como a desregulação dos mecanismos cerebrais de controle do apetite. Estudos anteriores demonstraram que os animais submetidos à dieta intermitente comiam, ao final, quase a mesma quantidade de comida que os ratos do grupo controle, pois compensavam a privação nos momentos em que o alimento estava disponível. Ainda assim, ganhavam menos peso. O interesse pelo estudo partiu da vontade de entender, do ponto de vista metabólico, como isso ocorre.
Durante o experimento, que durou três semanas, os ratos com 8 semanas de vida foram divididos em dois grandes grupos. Os animais submetidos à dieta intermitente alternavam períodos de 24 horas em jejum com períodos de 24 horas de alimentação livre. O grupo controle recebeu ração à vontade todo o tempo. Para descartar a possibilidade de que o excesso alimentar não seria absorvido e acabaria eliminado pelas fezes, além de monitorar a quantidade de comida ingerida, os pesquisadores também observaram o consumo de água e a produção de urina e de fezes.
O grupo controle, após as três semanas, apresentou peso cerca de 11% maior. Os autores afirmam que, mesmo com 50% menos tempo de acesso à comida, os animais da dieta intermitente ingeriam o equivalente a 80% da quantidade consumida pelos animais controle, o que indica a ocorrência de hiperfagia nos momentos em que o alimento estava disponível. Não houve diferença entre a quantidade de urina e fezes entre os dois grupos.
Diante desses resultados, os pesquisadores compararam a atividade metabólica geral dos ratos através da calorimetria indireta. Os resultados demonstraram que, quando os animais da dieta intermitente estavam alimentados, ocorria um aumento das taxas metabólicas e eles passavam a gastar mais energia. Já nos dias de jejum, o organismo consumia muitos lipídeos, ou seja, eles queimavam mais gordura.
No entanto, foi observado que no período do jejum ocorria uma diminuição em torno de 30% de um neurotransmissor chamado TRH (hormônio liberador de tireotrofina), associado à liberação dos hormônios da tireoide – uma possível explicação para a variação na taxa metabólica, e também houve um aumento significativo dos neurotransmissores AGRP (peptídeo relacionado à Agouti) e NPY (neuropeptídeo y), responsáveis por estimular o apetite. Os autores afirmam que, normalmente, os níveis desses neurotransmissores caem após as refeições, mas nos animais da dieta intermitente eles continuavam duas vezes mais elevados que no grupo controle, o que sugere que os ratos continuavam com fome mesmo com o estômago repleto de alimento.
Os autores concluem que o jejum intermitente promove alterações na função hipotalâmica que explicam as diferenças de massa corporal e da ingestão calórica, e afirmam que a possível reversão dessas alterações deve ser investigada.
Referência (s)
Chausse B, Solon C, Caldeira da Silva CC, Masselli Dos Reis IG, Manchado-Gobatto FB, Gobatto CA, et al. Intermittent fasting induces hypothalamic modifications resulting in low feeding efficiency, low body mass and overeating. Endocrinology. 2014;155(7):2456-66.
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